DM – Não há dúvida de que foi uma grande ação dos portugueses.

Luciano Campos – Foi o grande primeiro trabalho dos portugueses. Temos que ser muito gratos a eles, porque mantiveram aquilo para nós. Não só mantiveram, nós sabemos que o Tratado de Tortesilhas limitou a conquista de portugueses da linha de Tordesilha, que é um meridiano imaginário passando por Belém e até Laguna, e os portugueses que havia terras a Leste, e os espanhóis terras ao Oeste. Mas os portugueses valentes, principalmente daqueles 60 anos em que Portugal caiu sob o domínio espanhol, quando morreu o cardeal Dom Henrique, em 1580, e assumiu o Rei Felipe II da Espanha, por questão de parentesco, e deu o golpe e anexou Portugal numa coroa única. Isso foi até 1640. Disso sabiamente se valeram os portugueses para levarem o meridiano na direção dos Andes. E depois foi assinado o Tratado de Madri, que Portugal, depois de ser muito maltratado por Felipe II, III e IV, recuperou autonomia, e aí os portugueses foram para a cordilheira, com a ponta da espada, muita luta, muito sangue derramado e que tiveram a participação dos bandeirantes que saíram de São Paulo, Pedro Teixeira, Raposo Tavares... Foi uma luta fantástica que a história registra, mas não registra ainda com a verdadeira autoridade.

DM – E hoje, o que está acontecendo na região?

Luciano Campos - Os estrangeiros continuam, principalmente ingleses e americanos, a se apossar da Amazônia. Primeiro, eles têm hoje na Amazônia mais de 500 ONG’s, as famigeradas Organizações Não-Governamentais. A grande maioria delas, senão todas, de não-governamentais só tem o nome. Todas elas têm uma origem. Estou, no momento, fazendo um estudo muito sério sobre ONG’s, desde as primeiras que foram fundadas na Inglaterra, no império britânico, sob égide da coroa britânica. Na verdade, essas ONG’s fazem um trabalho nefasto e pernicioso. Só para citar um exemplo: existe na Amazônia uns 6 mil quilômetros de estradas que são feitas ou reparadas e mantidas pelo Exército, pelo Grupamento de Engenharia e Construção. Mas depois da revolução, não só foi aberta a Transamazônica, mas foi construída Cuiabá/Santarém, Cuiabá/Porto Velho, Rio Branco, Cruzeiro do Sul, procurando acabar com o arquipélago que era o Brasil e juntando o continente. nessa estrada Cuiabá/Santarém tem um trecho mais ou menos do meio até Santarém que está ainda em terra. Na Amazônia, chove todo dia, quando cai chuvas mais fortes as estradas acabam. Então, há anos o Brasil, representado pelo Exército, tudo faz para asfaltar esse trecho de estrada, mas não consegue, porque as ONG’s entram na Justiça e conseguem uma liminar para não construir. Isso me foi relatado pelo general-comandante do grupamento de engenharia de construção numa visita que eu fiz à Amazônia em 2000 e acompanhei com reconhecimento do terreno.

DM – Mas a pretexto de quê?

Luciano Campos – Primeiro, porque se asfaltar a estrada, vai aumentar muito mais o desmatamento lateral, de um lado e de outro. Segundo, porque vai perturbar os coitados dos índios que vivem ali. Sempre se consegue do nosso juiz uma liminar. Mas parece que agora o governo Lula está decidido... Há poucos dias saiu na internet que vai sair a estrada e o Grupamento de Engenharia está pronto para construí-la.

DM – Mas por que eles impedem a construção da estrada?

Luciano Campos – Porque o Brasil, desde 2002, é praticamente o maior produtor de soja do mundo. A nossa soja do Mato Grosso desce para Paranaguá naqueles caminhões. Chega no porto e paga taxas altíssimas, tarifas altíssimas, e depois vai de navio também a muito custo para o hemisfério norte. Se essa estrada Cuiabá/Santarém for asfaltada, essa soja vai escoar via rodoviária até Santarém. Em Santarém vai facilmente para Belém ou para Manaus. E em Manaus tem estrada asfaltada que vai até a fronteira com a Venezuela. E da fronteira com a Venezuela vai até o Caribe também asfaltada. Se esse trecho for completado, a soja mato-grossense disputará competitivamente com a soja americana.

DM – O senhor acredita que eles fazem tudo planejado?

Luciano Campos – Tudo deles tem sentido. Eles não fazem nada que não seja planejado e bem estudado. Uma outra ação nefasta dessas ONG’s é que elas estão pressionando o governo brasileiro para demarcar reservas indígenas. O senhor não sabe. Hoje nós temos um quinto da área da Amazônia legal, cerca de um milhão de km², em reservas indígenas, ou já demarcadas ou em processo de demarcação. Foi a Surviver internacional, uma ONG potentíssima britânica, que fez o maior trabalho para se demarcar a reserva Yanomami, que, na verdade, é um verdadeiro absurdo.

DM – Quando ocorreu isso?

Luciano Campos – Foi feito no tempo do famigerado governo Fernando Collor. Vi trechos de uma carta contando tudo isso. Além do trabalho da Surviver para conseguir essa demarcação, o presidente Collor, depois de eleito, foi aos Estados Unidos e teve uma conversa com o Bush (o pai). Este, na época presidente americano, passou-lhe uma carta (li alguns trechos dela, tenho trechos dessa carta) assinada por oito senadores americanos, entre os quais o senhor Teddy Kennedy e o senhor Al Gore, que foi o vice-presidente do Bill Clinton e candidato a presidente dos Estados Unidos. Nessa carta eles pedem ao presidente Bush, como senadores, que exija do novo presidente do Brasil, o senhor Fernando Collor de Melo, a imediata demarcação do território Yanomami. Quando o presidente Collor chegou ao Brasil, a primeira coisa que ele fez foi mandar demarcar, inicialmente demarcada com uma portaria e depois transformada em decreto. E hoje temos uma área de 94 mil km², mais de duas vezes a área do Estado do Rio de Janeiro.

DM – Por que houve esse interesse americano em demarcar essa área?

Luciano Campos – Porque os geólogos brasileiros e estrangeiros já indicaram que talvez essa área seja a área mais rica do planeta em ouro, diamante, urânio, possivelmente nióbio e petróleo. Porque a Venezuela tem o subsolo todo de petróleo e a fronteira terrestre aqui não limita lá embaixo. Por isso devemos ter muito petróleo. Quem conhece o que é o petróleo, sabe como ele se forma, sabe que a Amazônia vai ser toda petróleo. Então foi por isso que queriam delimitar. por quê? Para preservar para eles. E agora sabem que a Yanomami fica a noroeste de Roraima, aliás há um parêntese: o marechal Rondon deixou um livro sobre os índios, importantíssimo, levou a vida toda dedicada às fronteiras do Mato Grosso, da Amazônia e depois dedicada aos índios, cunhou uma frase que ficou eterna para a história: “Quanto aos índios, matar nunca, mas morrer se preciso”. E ele nem se refere a esse nome. Dizem que foi uma jornalista canadense, uma Claúdia não-sei-o-quê, que inventou esse nome. A região talvez se chamasse Yanomami. Não existe a etnia Yanomami, existe um livro que fala sobre isso e prova que não existe essa etnia. Mas a Funai admite e relaciona com as etnias a Yanomami. São índios esparsos, de 4 a 8 mil de várias tribos. Não são nem nômades, vivem estacionados. Plantando e cultivando lá. 4 a 8 mil índios para uma área de 94 km². E mais: se prolongando numa reserva Yanomami num território venezuelano. Agora o que a Surviver internacional, que é britânica, tem. Eles têm interesse de ter isso aqui. E querem por força que o governo brasileiro faça a demarcação. O ministro da Justiça não sabe o que tem na cabeça. É outra área riquíssima que o País tem e que eles querem, as ONG’s querem, a Inglaterra quer, os Estados Unidos querem. Pois bem, nós tínhamos ficado recentemente aliviados porque essa ministra Helen Gracie, do Supremo Tribunal Federal, conseguiu uma liminar com a aprovação da totalidade dos ministros do Supremo para não permitir a demarcação. O governo brasileiro ficaria impedido de fazer isso. O que se permite e até se deseja é que faça uma demarcação em ilhas, respeitando as ilhas onde se localizam os quinze mil índios. Há pouco tempo, o senhor deve ter acompanhado, saiu na televisão, nos jornais, que eles bloquearam as estradas e muitos desses índios são contra a demarcação. por quê? Porque eles estão integrados com os não-índios que alguns chamam de branco, que não é branco coisa nenhuma, porque estão plantando e colhendo arroz, eles estão explorando. Se essa demarcação de área contínua se efetivar, nós vamos perder pelo menos quatro municípios que lá estão, porque ninguém pode mexer em terras indígenas. Não se pode fazer nada. Só o índio pode fazer. Então é um verdadeiro crime de lesa-pátria fazer essa demarcação em terra. Também agora se vê a tristeza de saber que o ministro do Supremo pediu vista do processo para reexaminá-lo e ver se é possível permitir ao governo Lula demarcar essas áreas.

DM – Como está a atuação do Exército na Amazônia?

Luciano Campos – Quem está fazendo alguma coisa pela Amazônia chama-se Forças Armadas. Foi criado o projeto Calha Norte justamente para verificar a área acima do Rio Solimões/Amazônia e garantir uma defesa maior. As principais linhas secas vêm do Norte. Barrar o inimigo que vem pela foz do Rio sai mais fácil, mas barrá-lo para quê, sem ter ninguém para defender, numa largura de quilômetros do Rio Amazonas. Ficando aqui será muito mais difícil de reconquistar isso no futuro. Então precisamos verificar essa fronteira. Foi criado o projeto Calha Norte e só as Forças Armadas fizeram alguma coisa. O Exército mandou tropas para lá, a Aeronáutica prestou um serviço fabuloso porque lá o transporte ou é fluvial, que leva meses para ir de um lugar a outro, ou então aéreo. A Marinha faz o controle fluvial, um grande trabalho com navios, e dá assistência aos ribeirinhos.

DM – E a verdadeira ocupação da Amazônia pelos países?

Luciano Campos – Eu tenho um mapa que mostra em manchas vermelhas (ele foi elaborado pela Associação Nacional dos Geólogos do Brasil com dados do Departamento Nacional na Produção Mineral), que tem inúmeros, não posso precisar o número de terras, que já estão em posse de estrangeiros, particularmente americanos e ingleses. E algumas dessas propriedades, quando não estão no nome deles, estão no nome de terceiros, aqueles que lhe venderam as terras. Lá também, pressionados pela carga de impostos, chega o americano, chega o inglês e oferece um milhão de reais por uma área de não sei quantos hectares, eles vendem, cedem aquilo. Existe uma lei que proíbe explorar o subsolo, senão por ordem do governo, mas os estrangeiros fazem isso e você não controla, porque o descaminho impera. Só uma coisa: o senhor já ouviu falar do nióbio. O nióbio é um metal novo, foi descoberto no século passado e hoje é um metal indispensável nas ligas de aço para a principal indústria do mundo, a aeroespacial. E ele é usado nas naves espaciais, nas ogivas de foguetes, nas turbinas de caminhão, estradas de ferro, em instrumentos ótico, e até nas prosaicas lâminas de barbear que usamos todo dia. É um metal refratário, que suporta qualquer temperatura, qualquer pressão, e por isso é indispensável. O consumo mundial hoje de nióbio no mundo é de 40 milhões de toneladas por ano. O Brasil exporta 20 mil. De todo nióbio existente no mundo, 99,4% estão no Brasil. 94,4% estão na Amazônia, o resto em Araxá, Minas Gerais, e Catalão/Ouvidor aqui em Goiás, que é explorado por uma multinacional. E toda produção de Araxá e Catalão é exportada por duas multinacionais com a pequena participação do grupo Moreira Salles. Na Amazônia existe (a gente chama mina o que está sendo explorado, e jazida o que ainda não está sendo explorado) uma mina no município de Presidente João Figueiredo, a 110 km de Manaus, que está sendo explorada por uma subsidiária da Paranapanema. É a única nacional que explora e atende mais a indústria nacional. E a grande jazida dos Seis Lagos, que é uma fortuna, foi estimada em dados fornecidos pelo DNPM e cálculos feitos por mim em um trilhão de dólares. Nós temos nióbio hoje no Brasil para atender o mundo em termos de consumo atual durante 1837 anos. E como o mundo se supre do resto se o Brasil só exportou em 2003 vinte e poucas mil toneladas? Descaminho. Porque contrabando é o que vem de fora para dentro, e o que vem de dentro para fora o termo técnico correto é descaminho. Eu tenho uma informação de uma senhora, pela internet, um informe, porque não podemos comprovar, e esse informe diz que sai constantemente como lastro dos navios do porto de Tubarão nióbio para os EUA, Inglaterra, Europa, para o Japão, que também tem participação. Então é uma fortuna inacabável.

DM – Sai clandestinamente...

Luciano Campos – Clandestinamente e são bilhões de dólares. Bom, por que temos essa preocupação dessa posse irregular dos estrangeiros? Já no governo Lula, até o José Dirceu quando era deputado apresentou um projeto limitando ainda mais a possibilidade de estrangeiros comprarem terras. Mas para o Brasil fazer executar lei é a coisa mais difícil do mundo. O que preocupa é o seguinte: se você for estudar a história do México vai verificar o que aconteceu lá. O México se tornou independente em 1821, um ano antes do Brasil. Logo depois da independência, os americanos começaram a ir para o Texas. Era tudo mexicanos, estabelecidos em fazendas. aí no meio do século XIX até o fim, eles foram conquistando. Quando chegou em 1836, eles, com a cooperação de nativos, fizeram a independência do Texas, que o governo americano pouco depois reconheceu e quando foi nove, dez anos depois, em 1846, anexou-o à federação americana através do Tratado de Guadalupe. Mas depois disso, os americanos, a mando militar mesmo, do Texas, foram para o Oeste conquistar o Novo México – o Arizona naquele tempo fazia parte do novo México – e a Califórnia. Ficou só uma tripa da Califórnia aqui para o México. Depois o que estava no meio caiu de podre, que foi o Colorado, Yotah e Nevada. Com isso foram dois terços do território mexicano perdido. É o que nós tememos acontecer com a Amazônia.

DM – Até que ponto esta ameaça existe de fato em relação ao Brasil?

Luciano Campos – Nós estamos cercados pelos americanos. Temos pelo menos seis bases aéreas, cerca de 20 bases de radar. Temos uma base no Equador, aqui no Peru. Eles acabaram de inaugurar uma em Pedro Juan Cabalero. Só não botaram o pé no Brasil, mas fizeram de tudo para botar em Alcântara. Felizmente estava para ser aprovada no Congresso quando o governo Lula tirou e eles quiseram botar o pé. E nós tivemos, como sabe, três fracassos do VLS, e hoje ainda há uma alta e justificada suspeita de que houve sabotagem. Essa semana, a TV deu que o Brasil lançou um foguete em Alcântara e não anunciou para ninguém. Mas foi lançado com total sucesso, porque, além de termos perdido aqueles 21 cientistas naquele acidente lamentabilíssimo, agora o governo está insistindo e não vai deixar mais americano botar o pé em Alcântara. E no dia que botar, não sai de lá. O que é Alcântara? É a porta de acesso. No dia que os americanos colocarem o pé lá, eles não saem, como não saíram de Guantânamo em Cuba.