A exploração das regiões abissais dos oceanos começou com o pioneirismo e a coragem do naturalista William Beebe e do engenheiro Otis Barton, que em 1930 chegaram a 300 metros de profundidade em uma esfera de aço suspensa por um cabo de aço de 1 polegada (2.54 cm) de espessura. Em 15 de agosto de 1934, William Beebe e Otis Barton desceram a pouco mais de 900 metros profundidade nas ilhas Bermudas (Caribe), quebrando o próprio recorde mundial.
Em 1951, na fossa das Marianas, o navio da marinha real britânica HMS Challenger II descobriu com o sonar a depressão mais profunda dos oceanos. A depressão foi denominada Challenger, em homenagem ao navio que a descobriu.
No dia 23 de janeiro de 1960, o engenheiro oceanográfico e explorador Jacques Piccard e o tenente da marinha americana Donald Walsh realizaram uma das maiores e mais arriscadas aventuras de todos os tempos: “pousaram” na depressão Challenger, distante 11 mil metros da superfície do mar.
A depressão Challenger é o ambiente mais extremo da Terra. A pressão da água é de inimagináveis 11 mil toneladas por m² ou 1100 vezes a pressão atmosférica. Para se ter uma idéia do que isso representa, submarinos militares normalmente só conseguem descer a no máximo 300 metros de profundidade e o gás de cozinha (GLP) de um botijão domestico está sob uma pressão de “apenas” 150 toneladas por m² ou 15 vezes a pressão atmosférica. Alem disso a região da fossa das marianas é suscetível a terremotos submarinos, a temperatura da água é de poucos °C acima de zero, fendas lançam lava vulcânica, fontes hidro-termais lançam jatos de água que alcançam a temperatura de centenas de ºC e a escuridão é total.
Somente uma maquina conseguiria levar um ser humano a depressão Challenger e trazê-lo com vida: o submergível Trieste.
O Trieste possui uma esfera de aço de 13 toneladas, com 1.9 metros de diâmetro interno, 2.027 metros de diâmetro externo e 12.7 cm (5 polegadas) de espessura, com capacidade para 2 tripulantes. Foi usada a liga de aço mais resistente do mundo, a HY-100. A janela, de formato cônico, é feita de um acrílico especial mais resistente que o quartzo fundido, com diâmetro interno de 6 cm, externo de 40 cm e espessura de 15.24 cm (6 polegadas). A força total exercida sobre a esfera de aço a 11 mil metros de profundidade é de indescritíveis 140 mil toneladas, 40% a mais do que o peso de um porta-aviões classe Nimitz.
O Trieste mede 18 de comprimento e pesa 50 toneladas vazio. Possui um flutuador enchido com 100 toneladas de gasolina, escolhida por ser mais leve que a água, o que eleva o seu peso total para 150 toneladas. A água entra no flutuador por orifícios localizados embaixo dele e fica em contato com a gasolina, que por ser mais leve não desce. Com isso consegue-se igualar a pressão no flutuador, que não foi projetado para suportar elevadas pressões. A submersão é conseguida liberando-se uma pequena quantidade de gasolina. Existem 9 toneladas de contra-pesos de aço que são liberados através de portas eletromagnéticas, usados na subida e em caso de emergência. Durante a subida, 2 toneladas de contra-peso foram liberadas. Os 2 motores elétricos de 2 HP fazem o Trieste se mover a velocidade de 1 milha náutica por hora.
A descida a depressão Challenger levou 5 apreensivas horas. Nos 20 minutos em que o Triste explorou o local, com a temperatura da água em 3 °C e dentro da esfera em congelantes 7 °C, Piccard (que mastigava um chocolate) e Walsh se surpreenderam ao verem peixes planos (achatados) nadando no chão da depressão Challenger, algo nunca antes imaginado. Viram peixes e criaturas bizarras nunca antes vistas e estima-se que existam muito mais seres vivos desconhecidos vivendo nessas regiões abissais. As potentes lâmpadas de vapor de mercúrio do Trieste iluminaram um local e seres vivos que nunca haviam recebido luz solar. A volta levou 3 horas e 15 minutos.
A ida a depressão Challenger foi um ato de extrema coragem. Se o Trieste não conseguisse voltar a superfície, não haveria possibilidade de resgate. O suprimento de oxigênio e de água duraria apenas alguns dias. Qualquer falha na vedação entre a janela e a esfera e entre a escotilha de entrada/saída e a esfera seria catastrófica. Durante a descida, a janela sofreu uma rachadura, o que causou um grande susto. Se a janela se rompesse, a água entraria com tamanha força e velocidade que em milésimos de segundo a tripulação seria esmagada.
A ida do homem a depressão Challenger foi o objetivo do programa Nekton, uma espécie de versão marinha do programa Apollo (que levou o homem a lua), que tinha por objetivo levar o homem as profundezas da Terra.
Milhares de alpinistas chegaram ao topo do monte Everest, centenas de astronautas foram ao espaço, 12 homens pisaram na lua, mas apenas 2 estiveram na região mais profunda da Terra. Piccard e Walsh nunca mais voltaram lá e não se sabe se um dia alguém voltara.
Nos anos seguintes após a aventura histórica, o Trieste encontrou os restos de 2 submarinos da marinha americana que afundaram acidentalmente, o USS Scorpion e o USS Thresher.
Atualmente o Trieste se encontra no Naval Historical Center, no Washington Navy Yard em Washington, DC.
Em 1966 um B-52 da força aérea americana colidiu com um avião de reabastecimento KC-130 e caiu na costa da Espanha com 4 bombas de hidrogênio de 1 MegaTon cada.
Três bombas caíram em terra e foram imediatamente resgatadas e a outra bomba caiu no mar e ficou perdida por 12 anos.
Outro submergível da marinha americana, o Alvin, a encontrou a 5 milhas da costa e 750 metros de profundidade.
Em 1986 o Alvin encontrou os restos de um navio que estava desaparecido a 74 anos: o RMS Titanic.
O Alvin tem uma esfera de titânio de 2 polegadas (5.08 cm) de espessura e consegue descer até 4500 metros de profundidade.
A batisfera de William Beebe e Otis Barton não era um submarino, era simplesmente uma esfera de aço suspensa por um cabo de aço de 1 polegada (2.54 cm) de espessura preso a um guindaste a bordo de um navio.
Um cabo umbilical levava energia elétrica e comunicação de radio.
Em muitos mergulhos, o mar estava agitado com o navio balançando muito, se o cabo tivesse se rompido, eles não teriam como ser içados de volta a superfície.
Se o guindaste quebrasse, não haveria muito tempo para consertar.
William Beebe (left) and Otis Barton standing next to the bathysphere.
William Beebe sitting on the Bathysphere.
William Beebe in the Bathysphere.
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