Batman Vs Superman – A Origem da Justiça (Crítica 2)

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Não é o filme perfeito mas é o filme que consegue abrir as portas corretas para o futuro do Universo Estendido DC.

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Batman (Ben Affleck) e Superman (Henry Cavill)

Desde a criação de Superman (1938) e Batman (1939), em uma época onde nem a própria DC Comics era DC Comics, esses dois personagens se tornaram símbolos de modos que podemos escolher para encarar a vida. Foram diversas versões, sempre baseadas no tempo ao qual pertenceram. Através da visão e talento de diversos profissionais, não só nos quadrinhos, mas em diversas mídias e formatos narrativos, os dois puderam ter seu status de grandes símbolos da cultura sendo construído ano após ano. Estiveram lado a lado e também um contra o outro inúmeras vezes, entretanto, isso nunca havia acontecido nas telas de cinema. Mas desde o anúncio de Batman vs Superman (ainda sem subtítulo) durante a Comic Con International (San Diego, CA) em 2013, fãs do mundo inteiro e até aqueles mais distantes desta esfera do entretenimento puderam aguardar o grande encontro dos heróis em uma obra cinematográfica. E este dia chegou.

O longa se passa 18 meses após os acontecimentos de O Homem de Aço (2013), a cidade de Metrópolis passa por uma recuperação depois da batalha de Superman (Henry Cavill – O Agente da U.N.C.L.E.) contra Zod, que além da destruição de parte da região, deixou a sociedade e a mídia divididas no modo como encaram Kal-El (figura quase messiânica e salvador do planeta Terra ou ameaça alienígena e emissário de uma guerra que não é dos terráqueos). Nesse contexto ambivalente, a inserção de Bruce Wayne / Batman (Ben Affleck – Argo) se encaixa de modo adequado, se tornando assim, a força oposta ao kryptoniano.

Com sua escolha altamente protestada desde seu anúncio, o novo intérprete do homem-morcego consegue tranquilizar os fãs mais questionadores e ainda trazer seu estilo próprio para o herói, que já é bem experiente e mesmo relativamente lento é precisamente eficiente. Não seria exagero citar que já pode ser considerado como o mais agressivo e ameaçador Batman do cinema (alta influência das versões de Frank Miller). Também conta com um Alfred Pennyworth (Jeremy Irons – O Rei Leão) que diferente dos filmes de Christopher Nolan, agora acumula funções anteriormente destinadas para Lucius Fox (Morgan Freeman, na trilogia recentemente encerrada) e possui mais conhecimentos tecnológicos e traços de personalidade irônica.

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Batman (Ben Affleck) com sua armadura especial para a batalha.

Outra dúvida e motivo constante de indagações foi a opção do jovem Jesse Eisenberg (A Rede Social) para o papel de Lex Luthor. Alinhado corretamente com o contexto apresentado para o CEO da LexCorp, a construção dessa nova versão do clássico vilão se baseia claramente em mostrar um personagem perturbado (o que incomodará muitos) e até deslocado da realidade apresentada, mas de certa forma, não muito distante de muitas figuras de extrema direita do cenário atual americano, o que para alguns, pode carregar uma forma de crítica aos que defendem determinados comportamentos bélicos. Entretanto, sua personalidade manipuladora foi mantida e é fundamental para o desenrolar da narrativa apresentada. Atenção para sua obsessão em relação “ao que vem do céu”.

Gal Gadot (Velozes e Furiosos 7) carrega a responsabilidade de atuar na primeira encarnação cinematográfica de Mulher-Maravilha / Diana Prince e mesmo que não seja considerada personagem principal do longa, pode ser vista como coadjuvante de luxo, dada sua importância para a interação com as duas figuras centrais (principalmente Bruce Wayne). Tranquilamente arrancará boas reações da plateia em momentos-chave de Batman vs Superman : A Origem da Justiça mas ainda é importante aguardar seu filme solo (agendado para 2017) para opiniões mais completas.

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Um ponto que merece destaque é o uso de efeitos digitais em BvS. É realmente difícil imaginar batalhas com os principais personagens da DC Comics sem criar uma escala de poderes quase baseada em divindades. Para isso, Zack Snyder (que já não é econômico nesse sentido) não poupa os olhos do espectador do uso de recursos especiais. A questão é que quanto mais se mostra, mais quem assiste percebe a não verossimilhança, como em momentos de exibição contínua do batmóvel (que nos filmes de Nolan eram quase sempre reais e baseados em efeitos práticos). A câmera de Snyder ainda se baseia em acompanhamento da ação frenética mas em alguns momentos também toma distância e mostra mais de uma vez a visão diferenciada de “olhos humanos”, como do próprio Batman.

Com a trilha sonora composta por Hans Zimmer (Trilogia Cavaleiro da Trevas) e Junkie XL (Mad Max: Estrada da Fúria), cria-se uma mistura do que já vimos anteriormente nos últimos filmes de Batman e de Superman, entretanto, com adições de música eletrônica e guitarras pesadas que trazem o tom épico especialmente para os momentos de batalha e perseguições. Destaque para os acompanhamentos de Mulher-Maravilha.

O que pode ser considerado o quesito mais problemático do filme é com certeza como ele organiza suas camadas do roteiro. Mesmo com a longa duração (que a princípio não cansa, devido ao seu intenso ritmo) a necessidade de incorporar diversos e novos elementos no caminho iniciado por O Homem de Aço se mostra executada de modo desequilibrado. Ainda assim, constrói bem os paralelos (principalmente maternos) entre Clark e Bruce, que mesmo em pontos opostos durante todo o filme, se encaminham para uma natural complementação. Ainda sobre a trama principal, um dos grandes aborrecimentos dos tempos em que vivemos é alta exposição dos principais fatos dos filmes pelas intensas e onipresentes campanhas de marketing (muitas vezes feitas fora dos estúdios). Contudo, mesmo não sendo o melhor cenário possível, ainda há muitas surpresas dentro dos 151 minutos de Batman vs Superman : A Origem da Justiça.

Diversas referências vindas das obras originais da DC Comics podem ser encontradas neste filme e se entrarmos em títulos, além de O Retorno do Cavaleiro das Trevas (Frank Miller, Klaus Janson e Lynn Varley), poderia ser compreendido como spoiler. Mas a grande lista de profissionais do mundo dos quadrinhos presente na lista de agradecimentos dos créditos finais demonstra a importância desse conteúdo para BvS. A influência direta não só dos quadrinhos (como na primeira sequência de ação de Batman) mas também de games (como Injustice : Gods Among Us a franquia Arkham) é clara e mostra como já ocorre uma retroalimentação das diferentes mídias e formas narrativas. Ainda sobre referências, merece ser ressaltado o paralelo bíblico após o clímax apresentado.

Fiquem atentos (as) com as diversas referências. (foto: divulgação)

Fiquem atentos (as) com as diversas referências. (foto: divulgação)

Fazendo valer o subtítulo deste filme, a Warner Bros. finalmente inicia de modo direto e até mais explícito do que se esperava, a estrada para a estrutura do Universo Estendido DC Comics. Fica claro o seu jeito mais sério e realmente mais adequado de encarar os heróis de seu catálogo, diferenciando bem do que Marvel / Disney  trilham com sucesso. Apesar dos questionamentos, Batman Vs Superman : A Origem da Justiça faz com que daqui para a frente nos acostumemos a ver a “trindade” nas telonas, lugar que já deveriam estar faz muito tempo.

 

Batman Vs Superman : A Origem da Justiça
Direção: Zack Snyder
Roteiro: David S. Goyer e Chris Terrio
Elenco: Ahman Green, Amy Adams, Bailey Chase, Barton Bund, Ben Affleck, Callan Mulvey, Christina Wren, Dan Amboyer, Demi Kazanis, Diane Lane, Ezra Miller, Gal Gadot, Harley Wallen, Harry Lennix, Henry Cavill, Holly Hunter, Jason Momoa, Jena Malone, Jeremy Irons, Jesse Eisenberg, Joe Cipriano, Laurence Fishburne, Maggie Wagner, Marko Caka, Michael Cassidy, Nicole Forester, Ray Fisher, Sandhya Chandel, Scoot McNairy, Stephanie Koenig, Tao Okamoto, Will Blagrove
Produção: Charles Roven, Deborah Snyder .Produção Executiva: Geoff Johns e Christopher Nolan.

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