Thor
07-01-2007, 05:14:44
Foristas, nunca imaginei que um tópico como o que postei anteriormente, intitulado "Vou Infartar!!!" em http://gamesbrasil.uol.com.br/forum/showthread.php?t=39782 , pequena crônica, leve, cômica e tão pouco provocativa fosse acirrar tanto os ânimos de alguns foristas. Agradeço às críticas e à solidariedade ferrenha de alguns e a neutralidade de outros.
Inicialmente dei por encerrada a discussão, mas refleti, e posto aqui não continuação daquele tópíco, e não querendo provocar ninguém, mas ainda refletindo sobre o poder amedrontador dos games de terror.
Escrevi esse texto que postei em outros 3 foruns onde ainda discutimos o inicial, e sinto-me mal em encerrar abruptamente sem compatilhar com vocês, amigos do forum gamesbrasil, mais algumas reflexões sobre o poder dos games de terror na mente humana.
Monstros em geral, apesar do sustinho, principalmente quando pulam na tela subitamente, não me amedrontam.
Joguei Doom 3 e AVP. Não terminei nenhum dos dois. Mas em nenhum momento achei verdadeiramente assustadores, porque, como foi dito, principalmente Doom 3, explora chavões da cultura do terror.
Quando eu postei as telas, não sei se todos leram, abaixo da última tela, o que eu disse. Tirei as telas logo ao amanhecer, e o pessoal aqui em casa ainda dormia. Então, joguei até a segunda fase absolutamente sem som. Não imaginam o quanto o fator TERROR ficou diminuído.
Interessante como a mente humana trabalha. Quem já leu Edgar Alan Poe, Álvares de Azevedo, ou mesmo alguns contos do outro mundo do Guimarães Rosa, ou pelo menos participou de uma simples rodinha ao pé da fogueira com contos macabros, sabe o quanto a sugestão é capaz na mente humana. Qualquer experiência não visual, mas relatada, é muito mais aterradora. Deixar a mente brincar é o melhor método para o terror.
Meu avô paterno é espanhol. Quando era criança, minha tia, filha dele, contáva-me na madrugada algumas estórias "fantabulosas" espanholas, que devem ter-se originado na Europa, na idade média, nos vilarejos mais sombrios e isolados, talvez assolados pela terrível Inquisição espanhola, e que percorreram gerações. Como criança, quando minha tia estava em casa, frequentemente eu pedia para ela repetir esta ou aquela estória, pois cada vez que ela contava, minha imaginação era estimulada de maneira diferente, e o conto tornava-se geralmente mais amedrontador, mas sempre mais estimulante!
Tenho um professor; seríssimo, têm 77 anos e o vigor de um jovem. Ele trabalha com uma questão muitíssimo controversa. Quando jovem aplicava hipnose em pacientes - de forma não declarada - para amenizar os tratamentos. Foi um caos total, quando isso chegou ao conhecimento público. Naquela época, os homens da cidade ficaram receosos e amedrontados que o dito professor fosse utilizar-se de suas competências para "acochar-se" impunemente com as esposas e filhas! Foi um rebu. Segundo ele, bom contados de histórias, houve tamanha comoção que por pouco não inviabilizou a vida profissional dele no local.
Por ter profundo conhecimento sobre hipnose, embora ele não desenvolva formalmente a questão na faculdade, sempre faz profundas reflexões sobre o poder da sugestão na mente humana. Uma vez instalado ali um medo, uma ordem; a reativa a determinada situação é automática e involuntária. Pena eu não saber muito sobre o assunto pra melhor convencê-los!!! Conversar com ele sempre é um misto de aula acadêmica, lição de vida e conversa de botequim.
E este é o grande mérito de "Painkiller: Battle Out of Hell", que explora, ao menos na primeira fase, o não dito, o subentendido. Alguém que jogue percebendo as criancinhas apenas como fantasmas ou zumbis, vai assustar-se pouco. Mas quem joga atento, observativo, "sentindo" a música e o ambiente; sobretudo não passando batido nas fases e simplesmente matando os monstros, mas que observa o clima local, onde crianças parecem ter sido maltratadas das mais diversas formas, num passado doentio, amedronta-se! Jogando a primeira fase, observem as jaulas para bebês, as camas pontiagudas, o caixão de pregos, algum sangue, entre outros elementos macabros e sugestivos. Quem foi uma criança criativa, vívida e imaginativa envolve-se.
Hoje como adulto e, particularmente, na qualidade de estudante de Medicina, sei, pelo bem da profissão e na preservação de minha integridade psicológica, bem distinguir o real do imaginativo. Há momentos comtemplativos, momentos de falar, e momentos de agir.
Profissões que exigem contato íntimo com a maldade humana, como policiais e militares em guerra por exemplo, quando não bem preparados ( situação frequente ), não por acaso levam a altíssimos níveis de suicídios. Aqui mesmo, há não muitos anos, um psiquiatra formado, analisado, velho de mercado, cometeu suicídio não por outro motivo que não seja: "pirou com os pacientes o coitado"... seria cômico se não fosse trágico.
Tenho um amigo de família, que é neurologista. Por muitos anos ele atendeu indistamente a quaisquer pessoas. Começou a ficar desequilibrado, e hoje só atende pacientes previamente avaliados, e com comprovada implicação neurológica, especialidade dele, e não qualquer pessoa com distúrbios emocionais.
Não tenho números, mas posso atestar que em Pronto-Socorro ( falo pelos que tive contato ), de 60 a 70% das pessoas que ali se dirigem não tem nada! A imensa maioria são apenas pessoas carentes, sem amigo, sem afeto, em desatenção permanente, que somatizam das mais diversas formas e vão ali a procura de auxílio. Geralmente uma simples conversa de alguns minutos e algum afeto é o melhor atendimento. Alguns mais hipocondríacos insistem em "tomar um sorinho" senão não ficam satisfeitos com o atendimento e não desencanam.
Notem que por definição PS são pra atendimento médico emergencial! Imaginem como andam os amulatórios... meu Deus!
Galera, eu viajei mesmo! Mas tudo foi para tentar expressar de forma sucinta a complexidade da mente humana e o poder da sugestão. E os roteiristas de games e filmes de terror ( não teRRir ), são profundos conhecedores dos nossos medos coletivos. Tão ae milionários !
Thor ;)
Inicialmente dei por encerrada a discussão, mas refleti, e posto aqui não continuação daquele tópíco, e não querendo provocar ninguém, mas ainda refletindo sobre o poder amedrontador dos games de terror.
Escrevi esse texto que postei em outros 3 foruns onde ainda discutimos o inicial, e sinto-me mal em encerrar abruptamente sem compatilhar com vocês, amigos do forum gamesbrasil, mais algumas reflexões sobre o poder dos games de terror na mente humana.
Monstros em geral, apesar do sustinho, principalmente quando pulam na tela subitamente, não me amedrontam.
Joguei Doom 3 e AVP. Não terminei nenhum dos dois. Mas em nenhum momento achei verdadeiramente assustadores, porque, como foi dito, principalmente Doom 3, explora chavões da cultura do terror.
Quando eu postei as telas, não sei se todos leram, abaixo da última tela, o que eu disse. Tirei as telas logo ao amanhecer, e o pessoal aqui em casa ainda dormia. Então, joguei até a segunda fase absolutamente sem som. Não imaginam o quanto o fator TERROR ficou diminuído.
Interessante como a mente humana trabalha. Quem já leu Edgar Alan Poe, Álvares de Azevedo, ou mesmo alguns contos do outro mundo do Guimarães Rosa, ou pelo menos participou de uma simples rodinha ao pé da fogueira com contos macabros, sabe o quanto a sugestão é capaz na mente humana. Qualquer experiência não visual, mas relatada, é muito mais aterradora. Deixar a mente brincar é o melhor método para o terror.
Meu avô paterno é espanhol. Quando era criança, minha tia, filha dele, contáva-me na madrugada algumas estórias "fantabulosas" espanholas, que devem ter-se originado na Europa, na idade média, nos vilarejos mais sombrios e isolados, talvez assolados pela terrível Inquisição espanhola, e que percorreram gerações. Como criança, quando minha tia estava em casa, frequentemente eu pedia para ela repetir esta ou aquela estória, pois cada vez que ela contava, minha imaginação era estimulada de maneira diferente, e o conto tornava-se geralmente mais amedrontador, mas sempre mais estimulante!
Tenho um professor; seríssimo, têm 77 anos e o vigor de um jovem. Ele trabalha com uma questão muitíssimo controversa. Quando jovem aplicava hipnose em pacientes - de forma não declarada - para amenizar os tratamentos. Foi um caos total, quando isso chegou ao conhecimento público. Naquela época, os homens da cidade ficaram receosos e amedrontados que o dito professor fosse utilizar-se de suas competências para "acochar-se" impunemente com as esposas e filhas! Foi um rebu. Segundo ele, bom contados de histórias, houve tamanha comoção que por pouco não inviabilizou a vida profissional dele no local.
Por ter profundo conhecimento sobre hipnose, embora ele não desenvolva formalmente a questão na faculdade, sempre faz profundas reflexões sobre o poder da sugestão na mente humana. Uma vez instalado ali um medo, uma ordem; a reativa a determinada situação é automática e involuntária. Pena eu não saber muito sobre o assunto pra melhor convencê-los!!! Conversar com ele sempre é um misto de aula acadêmica, lição de vida e conversa de botequim.
E este é o grande mérito de "Painkiller: Battle Out of Hell", que explora, ao menos na primeira fase, o não dito, o subentendido. Alguém que jogue percebendo as criancinhas apenas como fantasmas ou zumbis, vai assustar-se pouco. Mas quem joga atento, observativo, "sentindo" a música e o ambiente; sobretudo não passando batido nas fases e simplesmente matando os monstros, mas que observa o clima local, onde crianças parecem ter sido maltratadas das mais diversas formas, num passado doentio, amedronta-se! Jogando a primeira fase, observem as jaulas para bebês, as camas pontiagudas, o caixão de pregos, algum sangue, entre outros elementos macabros e sugestivos. Quem foi uma criança criativa, vívida e imaginativa envolve-se.
Hoje como adulto e, particularmente, na qualidade de estudante de Medicina, sei, pelo bem da profissão e na preservação de minha integridade psicológica, bem distinguir o real do imaginativo. Há momentos comtemplativos, momentos de falar, e momentos de agir.
Profissões que exigem contato íntimo com a maldade humana, como policiais e militares em guerra por exemplo, quando não bem preparados ( situação frequente ), não por acaso levam a altíssimos níveis de suicídios. Aqui mesmo, há não muitos anos, um psiquiatra formado, analisado, velho de mercado, cometeu suicídio não por outro motivo que não seja: "pirou com os pacientes o coitado"... seria cômico se não fosse trágico.
Tenho um amigo de família, que é neurologista. Por muitos anos ele atendeu indistamente a quaisquer pessoas. Começou a ficar desequilibrado, e hoje só atende pacientes previamente avaliados, e com comprovada implicação neurológica, especialidade dele, e não qualquer pessoa com distúrbios emocionais.
Não tenho números, mas posso atestar que em Pronto-Socorro ( falo pelos que tive contato ), de 60 a 70% das pessoas que ali se dirigem não tem nada! A imensa maioria são apenas pessoas carentes, sem amigo, sem afeto, em desatenção permanente, que somatizam das mais diversas formas e vão ali a procura de auxílio. Geralmente uma simples conversa de alguns minutos e algum afeto é o melhor atendimento. Alguns mais hipocondríacos insistem em "tomar um sorinho" senão não ficam satisfeitos com o atendimento e não desencanam.
Notem que por definição PS são pra atendimento médico emergencial! Imaginem como andam os amulatórios... meu Deus!
Galera, eu viajei mesmo! Mas tudo foi para tentar expressar de forma sucinta a complexidade da mente humana e o poder da sugestão. E os roteiristas de games e filmes de terror ( não teRRir ), são profundos conhecedores dos nossos medos coletivos. Tão ae milionários !
Thor ;)