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View Full Version : Hugo Chávez faz discurso socialista e política econômica capitalista, dizem analistas



San Andreas
08-12-2007, 18:27:10
Apesar dos ataques, 50% das exportações venezuelanas vão para os EUA.

Derrota no referendo deve manter alinhamento às regras econômicas internacionais.



"Pátria, socialismo ou morte", por trás desse grito político radical do presidente Hugo Chávez, repetido à exaustão durante a campanha a favor da reforma constitucional rejeitada pela população no referendo do último domingo (2), há uma política muito mais pragmática. Segundo sociólogos, historiadores e cientistas políticos ouvidos pelo G1 os rumos da economia do país seguem alinhados às regras do capitalismo internacional.



Daniel Buarque/G1
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Boneco inflável do presidente Hugo Chávez é usado em campanha pela aprovação da reforma (Foto: Daniel Buarque/G1)



Por trás dos regulares ataques chavistas ao “imperialismo” norte-americano, está um governo que mantém há quase uma década negócios regulares com empresas dos Estados Unidos, e que se sustenta desses negócios. E, apesar de o presidente dizer não ter desistido de seus planos e de ter ameaçado os negócios com os EUA durante a campanha, a derrota no referendo deve manter essa relação intacta.

"Chávez defende o `socialismo`, mas não rasga dinheiro", disse ao G1 o historiador Gilberto Maringoni,. "Ele tem o petróleo, e vende para quem quiser comprar, independente de ideologia", explicou. A Venezuela tem uma das dez maiores reservas de petróleo do mundo, e quase 50% de tudo o que é produzido do país é vendido para os Estados Unidos, segundo informações da CIA.

Autor de "A Venezuela que se inventa", Maringoni diz que Chávez é um pragmático em sua política, fazendo projetos de assistência aos mais pobres e conseguindo desenvolver a economia do país. "É uma situação que lembra muito a do Brasil sob Lula. A grande diferença é que o Brasil tem um setor privado muito forte, enquanto a Venezuela depende basicamente do dinheiro estatal, especialmente relacionado ao petróleo."

O termo socialismo, empregado com extrema regularidade pela administração chavista, é usado como sinônimo de melhoria de vida para a população, explica Maringoni. E o país de fato vive um momento de grande crescimento econômico (que chegou a 18% em 2004 e 9% no último levantamento) e de explosão consumista.




Daniel Buarque/G1
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Vista de favela em região central de Caracas (Foto: Daniel Buarque/G1)



Em qualquer passeio pelas ruas da região central e do leste de Caracas é possível ver carros de luxo, prédios modernos, grandes anúncios publicitários, símbolos do consumo que levam o país a uma enorme crise de abastecimento. Uma das principais críticas ao presidente é que não há, nos supermercados, estoques de leite, açúcar, carne, e com isso quem perde é a sociedade.



Favorecidos



Para o cientista social da Universidade Central de Venezuela Nelson Méndez, nunca houve tanto crescimento do consumo, especialmente do consumo de luxo na Venezuela. "Os que se associam a Chávez, ao governo, enriquecem, consomem, melhoram de vida de verdade, mas isso não é uma distribuição, ele apenas trocou um grupo de favorecidos por outro, sem ajudar de verdade ao grosso da população."

O historiador Maringoni também menciona a explosão recente do consumismo na Venezuela. "O país está sofrendo uma crise de abastecimento, de tanto que está comprando e consumindo. Os bancos venezuelanos nunca lucraram tanto. Este consumo em excesso não tem nada de socialista, é totalmente capitalista", diz.




Daniel Buarque/G1
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A região de Chacao, parte mais rica de Caracas (Foto: Daniel Buarque/G1)



Maringoni estudou a fundo os meandros do governo chavista e diz que não é possível saber exatamente o rumo que será tomado neste projeto "socialista". "O presidente não rompeu nenhum contrato desde que assumiu, manteve negócios muito lucrativos com empresas norte-americanas, por mais que sempre discurse contra este 'imperialismo'."

As grandes empresas, diz Maringoni, vêem Chávez como um fator de equilíbrio e estabilidade. "Mesmo que a situação não estivesse boa, elas sabem que, sem Chávez, perde-se a estabilidade econômica do país."

"Sem entrar nos méritos do governo Chávez, as esquerdas se iludem com a idéia de socialismo”, diz Rafael Uzcategui, diretor da ONG Provea, de defesa dos direitos humanos. “Grandes empresas multinacionais se associam ao governo, e assim lucram muito e ajudam no crescimento da economia do país. As pessoas podem até apoiar Chávez, mas precisam saber que o discurso radical anti-EUA não condiz com sua política real.”



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Presidente venezuelano segura cópias da constituição e da reforma proposta por ele(Foto: Juan Barreto/AFP)



Capitalismo global



"Chávez fala em pátria e socialismo, mas é um entreguista. Na verdade ele é um instrumento do capitalismo internacional", atacou, em entrevista ao G1, o advogado venezuelano Humberto Decarli, histórico militante da esquerda no país. Segundo ele, os acordos em que as empresas estatais se tornam sócias de multinacionais petroleiras, formando empresas mistas enfraquecem o país e apenas concentram poder nas mãos do governo e oferece lucros astronômicos. "Perde o povo", disse.

Decarli se referia a acordos entre a estatal PDVSA e a multinacional norte-americana Chevron, uma das maiores empresas de energia do mundo, para exploração de petróleo na Venezuela. Em acordos assinados em 2006, a Chevron se tornou acionista minoritária (39%) em empresas de exploração do petróleo venezuelano.




Howard Yanes/AP
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Oposição comemora vitória do 'não' em Caracas (Foto: Howard Yanes/AP)



"Se o socialismo de que ele fala é o exemplo soviético e cubano, sabemos que é uma cópia de um modelo fracassado", diz DeCarli. "O que me parece, é que estamos nos aproximando do atual modelo chinês, em que há grande desenvolvimento capitalista à custa da exploração social desumana e uma enorme concentração de poder nas mãos do governo central, que não garante liberdades individuais", disse.



Missões de socialismo



O cientista social Nelson Méndez também criticou ações de assistência tomadas pelo “socialismo” de Chávez e atacou as missões, exemplo governista de descentralização e de assistência e desenvolvimento econômico.

"São migalhas", diz. "Este socialismo de Chávez é apenas discurso, ele na verdade ajuda o capitalismo global."

O exemplo disso, diz, é que "a Chevron apoiou a reforma constitucional", disse, apontando que foram negócios com empresas multinacionais como esta que financiaram toda a campanha governista pela aprovação da reforma.

Ativa em mais de 180 países, a Chevron é a empresa privada que mais investe na Venezuela. O sociólogo se referia a uma entrevista do diretor para a Alí Moshiri, que disse recente ao jornal "El Universal" que as atividades da empresa seguiam muito bem, e revelou planos para expansão dos negócios em 2008 e até 2013.

"Uma multinacional como esta não faria um planejamento tão longo sem ter acordos com o governo", especula.