Sem provas, Jefferson confirma denúncias e faz ameaças
14 Jun 2005 18:23
(Acrescenta declarações do deputado Roberto Jefferson)
Por Tiago Pariz e Natuza Nery
BRASÍLIA, 14 de junho (Reuters) - Sem apresentar provas e com um discurso duro, o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ) confirmou ao Conselho de Ética da Câmara nesta terça-feira um suposto esquema de compra de votos pelo PT, mas não apresentou provas. Ele também disparou acusações ao ministro José Dirceu (Casa Civil), às lideranças do PL e do PP, mas inocentou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Não arredo pé de tudo que falei", afirmou.
Em seu primeiro depoimento após realizar denúncias pela imprensa, Jefferson fez um discurso rico em detalhes sobre encontros e reuniões, que durou mais de uma hora. Após o discurso, que começou às 14h50, teve início a sessão de perguntas.
Ele absolveu a bancada do PT de participar do esquema, mas disse que o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, pagava "mesadas" a deputados do PL e do PP, com consentimento do presidente José Genoino e do secretário-geral Silvio Pereira.
"Eu nunca vi mensalão, nem no governo do escorraçado (referindo-se ao ex-presidente Fernando Collor de Mello), nem no de Fernando Henrique (Cardoso), nem nos governos militares", afirmou, esclarecendo que tomou conhecimento do assunto em agosto de 2003.
"Eu só destampei o caldeirão... Provas não tenho, tenho provação... Eu avisei vários ministros sobre o mensalão e mesmo assim ele continuou. Só parou quando eu consegui apresentar a denúncia ao presidente Lula, que é um homem honrado", disse Jefferson. Ponderou que era difícil chegar perto de Lula, que vivia em um cordão de isolamento.
Durante seu depoimento, as acusações do presidente do PTB se refletiram em sussurros ao pé de ouvido dos deputados e risadas da platéia de parlamentares.
SAÍDA DE DIRCEU OU LULA RÉU
Um ponto alto foi quando Jefferson dirigiu-se ao ministro José Dirceu e pediu sua demissão, classificando-o de um "homem sem palavra".
"Zé Dirceu sai daí rapidinho. Se você não sair rápido vai fazer um réu que é o presidente Lula", disse.
Segundo o presidente do PTB, o chefe da Casa Civil teria intermediado um acordo entre o PT e o PTB para o pagamento de 20 milhões de reais de financiamento para campanhas nas eleições municipais de 2004.
Do total, apenas 4 milhões de reais chegaram aos caixas petebistas.
Jefferson evitou fazer afirmações claras de quais deputados receberam o suposto pagamento pelo PT, mas terminou seu depoimento dizendo que "muita gente do PP e PL estão acima" do esquema das propinas.
Citando os deputados Carlos Rodrigues (PL-RJ), Pedro Henry (PP-MT), Pedro Corrêa (PP-PE) e os líderes do PL, Sandro Mabel (GO) e do PP, José Janene (PR), além do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, disse: "Não posso ser cúmplice de vocês."
Depois de interpelado por Costa Neto, disse com firmeza: "Eu afirmo que o senhor recebia os repasses". O presidente do PL afirmou que as acusações são mentirosas.
Por diversas vezes em seu discurso, Jefferson foi irônico ao se dirigir ao presidente do PL. Ele trocou olhares com o deputado paulista e o "agradeceu" por ter sido "responsável" por pedir sua cassação por meio da representação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
NEGA ACUSAÇÃO NOS CORREIOS
O presidente do PTB é alvo de denúncias de suposta corrupção nos Correios e no Instituto Brasileiro de Resseguros (IRB), mas refutou qualquer acusação e disse que o governo queria jogar um cadáver sobre o PTB. Ele sugeriu que o secretário-geral do PT, Silvio Pereira, usaria a Diretoria de Informática dos Correios para superfaturar contratos.
"Não entendi porque a ciosa Polícia Federal, o cioso Ministério Público e a Procuradoria não investigam o correio aéreo noturno do Silvinho Pereira, que tem contas de superfaturamento", afirmou.
"Não é o PTB o responsável pela corrupção dos Correios. Não é, Silvio Pereira, não é, Zé Dirceu", afirmou em tom de acusação, mandando recados ao ministro e ao petista.
O deputado disse ainda que não indicou Mauricio Marinho, servidor da estatal flagrado recebendo propina, que declarou estar atuando em nome de Jefferson e do PTB.
"Marinho é funcionário de carreira dos Correios e não foi indicado pelo PTB", disse.
Para Jefferson, as investigações iniciadas no Conselho de Ética terão desdobramentos na CPI dos Correios.
"Não corro, não temo, hei de enfrentar cada passo, cada momento, cada segundo desse processo, que vai longe, começa aqui e deságua na CPI dos Correios e do 'mensalão'", disse em seu depoimento.
O deputado criticou a imprensa seguidamente e disse ver uma conspiração de veículos de comunicação contra ele comandada pelo governo.
CONSELHO TEM 90 DIAS
Roberto Jefferson, que completa 52 anos nesta terça-feira, responde por processo por falta de decoro parlamentar que poderá resultar na cassação de seu mandato de deputado.
O Conselho de Ética é formado por 15 integrantes e terá 90 dias para apurar o caso.
Por ter denunciado a mesada e por seu envolvimento nas denúncias de corrupção nos Correios, Jefferson responde ainda a investigação na Comissão de Sindicância da Câmara. Seu depoimento nesta apuração está marcado para quarta-feira e será sigiloso.
FONTE: www.reuters.com.br
ou seja,a casa caiu, o PT e o governo Federal patina na corrupção.....
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