Por Pablo Villaça
Dirigido por Tim Story. Com: Ioan Gruffud, Jessica Alba, Michael Chiklis, Chris Evans, Julian McMahon, Kerry Washington, Laurie Holden.
É no mínimo uma grande ironia que o cineasta Tim Story tenha este sobrenome, já que, considerando-se este Quarteto Fantástico e seu trabalho anterior (Táxi), o sujeito não possui talento algum para contar histórias. Esteticamente falando, então, seu talento é nulo: basta observar a direção incrivelmente deselegante que exibe nesta produção, criando cortes absurdos, fazendo mudanças abruptas no tamanho (não na duração, bem entendido) dos planos, empregando zooms pavorosos, concebendo quadros simplesmente ridículos (como o close fechadíssimo nos óculos escuros de Johnny Storm) e até mesmo cometendo o mais básico dos erros ao 'pular o eixo' em diversas ocasiões. Se eu fosse reitor da faculdade de Cinema na qual Tim Story se formou, eu daria graças a Deus pelo provão não existir nos Estados Unidos.
Inspirado nos personagens concebidos por Jack Kirby e Stan Lee (que faz sua ponta habitual no filme), o roteiro de Michael France, Mike Frost e Simon Kinberg (este último, não creditado) tem início quando o brilhante cientista Reed Richards e seu melhor amigo Ben Grimm se preparam para apresentar uma proposta para o bilionário Victor Von Doom, que imediatamente se identifica como o vilão do filme ao soltar insistentes risadinhas sarcásticas ao mencionar a falência do futuro Sr. Fantástico. Aliás, quaisquer dúvidas sobre a vilania absoluta do personagem seriam descartadas graças à atuação caricatural de Julian McMahon e ao fato de que, no terceiro ato, Doom aparentemente se transforma no Imperador Darth Sidious de Star Wars, com direito a capuz e tudo mais.
Ao contrário de algumas das mais recentes adaptações dos quadrinhos, que empregavam o humor como mera ferramenta narrativa, Quarteto Fantástico tenta provocar o riso da primeira à última cena, falhando consistentemente em seu objetivo: as 'tiradas' de Johnny, em particular, acabam tornando-se irritantes em vez de divertidas. Da mesma forma, a trilha instrumental 'engraçadinha' de John Ottman serve apenas para realçar a obviedade das piadinhas criadas pelos roteiristas, que atingem o fundo do poço na péssima montagem que tenta ilustrar o cotidiano dos quatro heróis.
Mas há algo ainda pior do que as pavorosas tentativas de humor: as seqüências 'dramáticas' que procuram conferir tridimensionalidade aos protagonistas. Nestes momentos, os roteiristas entregam-se sem reservas aos clichês, como pode ser observado na cena em que Reed leva um ramalhete de flores para Sue apenas para jogá-lo no lixo ao perceber que seu rival enviou dezenas de buquês para a moça; ou no instante em que Ben revela sua aparência deformada para a noiva (que, diga-se de passagem, é uma idiota insensível e exibicionista que não hesita em sair às ruas durante a noite usando apenas baby-doll). É há, também, algumas cenas que, sinceramente, não sei dizer se apresentam propósitos dramáticos ou cômicos, como aquela em que Sue encontra um 'álbum de memórias' estrategicamente 'esquecido' por Reed em sua gaveta.
E quanto aos inúmeros furos do roteiro? Alguns destes podem até ser perdoados em função do próprio absurdo da trama: se estamos dispostos a aceitar que os heróis vão 'para o espaço a fim de entenderem nosso DNA' (risos), então não podemos ser exigentes quanto ao fato de que partem para uma estação orbital sem passarem por treinamento algum. Por outro lado, o filme quebra as próprias regras ao estabelecer que os uniformes dos protagonistas podem acompanhar as mudanças corporais destes (já que também foram submetidos à radiação solar), somente para ignorar esta explicação ao permitir que os logotipos acrescentados posteriormente às roupas por Johnny também se transformem. E como Reed pode ter arranjado dinheiro para viabilizar suas pesquisas (incluindo a construção de uma complexa máquina) se, ao longo do primeiro ato, fica claro que ele está falido?
Habitado por uma galeria de personagens aborrecidos que se entregam a conversas imbecis recheadas de diálogos horrorosos ('Este é meu nariz, gênio. Estes são meus lábios.'), Quarteto Fantástico chega a ponto de criar uma cena cujo único propósito é mostrar a péssima Jessica Alba apenas de calcinha e sutiã, já que sua personagem tira a roupa em público para tentar furar, com sua invisibilidade, um bloqueio policial, mas acaba mudando de idéia. (Aliás, Sue Storm é uma destas cientistas jovens e de corpo escultural que, com seus infalíveis decotes, existem apenas nos filmes.)
E para que não digam que detestei tudo neste longa, faço questão de reconhecer a maquiagem projetada para a Coisa, que, além de resgatar com perfeição o visual dos quadrinhos, ainda permite que o ator Michael Chiklis utilize suas expressões faciais ao compor o personagem. Fora isso, afirmo com toda sinceridade que prefiro assistir novamente à versão podreira de Quarteto Fantástico produzida por Roger Corman em 1994 do que voltar a colocar os olhos sobre este desastre comandado por Tim Story. Ao menos, a versão de Corman se assumia como lixo.
Todas outras críticas (inclusive a do Pablo) podem ser encontradas no link abaixo:
http://www.rottentomatoes.com/m/fantastic_four/
Eh... como eu ja esperava pelos trailers... filme lixao ao extremo...
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